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Data Life entrevista José E. Ferreira, Coach, nadador de longas distâncias, recordista Guiness Book, que fala sobre propósito, planejamento e estratégia para superar desafios na busca pelo sucesso pro

Nov 16, 2022

A Data Life conversa com o coach, atleta, nadador de mar aberto e maratonas aquáticas, José Eduardo Ferreira. Com experiência no mundo corporativo, o ex-profissional de TI (Tecnologia da Informação), decidiu, por propósito, voltar à natação. Nadou na Espanha, em competições internacionais e fez a famosa travessia do Leme ao Pontal, ida e volta, 72 km, onde é recordista no Guiness Book. Coach corporativo e exemplo de atleta de foco e resiliência em busca de objetivos e superação de limites, José Ferreira conta como se prepara, como se planeja, e o quanto o propósito pode contribuir para atingir o objetivo profissional, nos desafios em campo, nos grandes empreendimentos em construção e operação.

Data Life: Tudo bem, José Eduardo? Você foi profissional de TI, fez carreira no mundo corporativo, certo? Conta pra gente o que te levou ou motivou a voltar a nadar e encarar provas, desafios tão difíceis?



J. Ferreira: Eu tenho 45 anos, e nado desde os 8 anos de idade por causa da asma. Dos 8 aos 20 anos, nadei aqui no Rio de Janeiro, pela equipe do Flamengo. Me formei lá, me tornei campeão estadual, brasileiro e aos 20 anos parei de nadar para me dedicar aos estudos, me formar. Porém, com aquela dúvida: até onde eu poderia ter ido na natação? Com 28 anos já estava gordo, pesando 120 quilos, imerso no trabalho, na vida sedentária, e refleti: estou precisando voltar! Quando tomei a decisão, trabalhava em uma multinacional, que em poucos meses abriu uma vaga no Nordeste. Pensei: vou para o Nordeste, ainda não tinha filhos, aceitei o desafio e fui para Fortaleza. Antes de alugar uma casa lá, arrumei um clube para nadar. Nadando eu consigo me entrosar, construir uma família com outros atletas. E como eu digo: a natação salvou a minha vida nos momentos mais críticos.



Depois de voltar, 2013, comecei a me movimentar para nadar no mar. Em 2017 decidi, ainda trabalhando, competir em provas de longa distância. Mas por quê? Nesse caminho de mudança, experiências, descobri que tenho uma capacidade enorme de planejar. Uma prova de longa distância requer estratégia e um time multidisciplinar, daí comecei a montar uma equipe. Além disso, tem a satisfação de você se desafiar, se conectar com o seu propósito. O meu era testar meus limites. Hoje, eu não nado por performance. Nado para me realizar. Esse é o meu propósito. Ver onde posso chegar e, como posso, com isso, ajudar as pessoas.


Data Life: Uma dessas provas foi a travessia do Leme ao Pontal, foi aí que você entrou para o Guiness Book?


J. Ferreira: Sim, vou voltar um pouco no tempo para contar. Em 2009, o Luís Lima, meu amigo de infância, de natação, fez a travessia do Leme ao Pontal. Logo depois surgiu a LPSA, associação que regulamenta a prova. Comecei a me interessar pelas competições em mar aberto e anos depois, fiz a travessia em revezamento com um colega, lá de Fortaleza. Estava tão bem preparado que poderia ter feito sozinho. Em 2018, fui realizar meu sonho, em busca de outro desafio: nadar a prova mais difícil da Espanha, de 27 km, nas águas geladas da Galícia. Só 100 atletas eram pré-selecionados para a prova. Eu fui e terminei em décimo lugar. Todos queriam saber quem era o cara que saiu do Brasil, que nadava em águas quentes e chegou entre os 10 primeiros. 


Voltei e com a pandemia, em 2020, comecei a preparação para a tríplice coroa sulamericana: Travessia do Leme ao Pontal, no Brasil, Rio da Prata, no Uruguai, e a travessia do Canal de Beagle, no Chile/Argentina. Na época eu também fazia minha formação de coach, então foquei em duas coisas: treinar e estudar. Seis vezes na semana, três, quatro, cinco, seis horas por dia. Estava nadando tanto que falei com meu técnico que queria fazer os 72 km, ida e volta da travessia. Ao mesmo tempo, o presidente da LPSA me convidou para ser observador/juiz da prova. Fazia o trajeto dentro do barco, onde pude entender melhor as características do mar, ver os pontos de correnteza, ventos, onde o atleta sofria mais. E como coach eu montava o planejamento para o desafio. Recebi então, a confirmação de que a equipe do Esporte Espetacular, com o Clayton Conservani, acompanharia a minha prova.


No planejamento estratégico, dividi a prova em 16 trechos. Conhecendo o meu corpo, passei a dar um feedback melhor para a nutricionista, psicóloga, técnico, toda a equipe. A cada trecho completado eu tinha uma ideia da previsão de tempo em cada etapa, da hidratação, alimentação dentro d’água, e aplicava minha estratégia, meu mapa mental. O objetivo era ser o primeiro a fazer a prova ida e volta, 72 km. Nunca pensei em Guiness Book. Meu nado foi a segunda melhor performance em águas abertas segundo a associação mundial. Sou o único brasileiro no Club 24 hours, para atletas que nadam acima de 24 horas e completam seus desafios. Essa história, só eu posso contar. Assim é o seu objetivo, sua meta profissional. Só você pode vivenciar!

 

Data Life: Na busca pelos objetivos, o propósito fala mais alto. Mas você nunca teve vontade de desistir? Como lidou com isso? É preciso estar com a saúde mental em dia, bem trabalhada?


J. Ferreira: Só pra exemplificar, em 2017, eu nadei minha primeira ultra maratona aquática, 20 km. Eu fui só com treino, não sabia o que poderia acontecer dentro do mar. Condições climáticas, o próprio mar, a gente não controla. Estava com 40 anos, mas parecia um garoto: “Vou entrar ali no mar, nadar e pronto”. Foi um dos maiores aprendizados que tive até hoje. Correu tudo bem até os primeiros 10 km, mas depois o tempo fechou, a correnteza contra, choveu, a ondulação subiu. Comecei a nadar devagar, fazendo 5 min. para cada 100 metros, quando normalmente fazia em 1min.20/1min.30. Nadava, nadava e não saia do lugar. Nadei por 3 km assim. Chorei, reclamei, pedi a Deus, lembrei da minha filha, se eu morrer aqui o que é que vai acontecer? Não posso desistir! O sufoco passou e conclui a prova, mas entendi que precisava estar com a saúde mental forte e em dia.


Então, quando fui fazer a travessia Leme ao Pontal, eu fui preparado para superar pensamentos negativos, para em determinados trechos saber como reagir, que tipo de ferramenta mental criar para passar por isso: uma lembrança, uma frase. 


Eu já estava há 13 horas nadando contra a correnteza, cansado e pensei: que pensamento está me incomodando? Falei para o meu técnico: tenho medo de não conseguir voltar...Ele respondeu: você consegue manter esse ritmo de braçadas? 

Eu disse: consigo. Ele falou: eu faço você voltar! Me enchi de confiança e pedi: liga para minha filha! Esse era também o meu propósito: dar o exemplo para que nunca desista dos sonhos dela. Sonhar é a maior ferramenta que uma pessoa pode ter. 


Data Life: Precisa também ter muita força de vontade e resiliência, certo? Como você faz? Para, respira, relaxa os músculos? Descansa uns minutos, solta o pensamento?


J. Ferreira: Comecei essa jornada de autoconhecimento. Foi quando eu me tornei coach esportivo e comecei a entender que, por trás de uma mente forte, você tem objetivos, estratégia, foco, resiliência. Você começa a entender suas emoções, como determinada emoção pode te afetar, como agir diante dela. Daí surgiu o que hoje é o meu conceito, que é você planejar estrategicamente as suas emoções, a gestão emocional. Normalmente, esperamos a pancada para reagir. Agora imagina se, conscientemente, você se planejar e determinar: naquele trecho eu vou me sentir assim, vou agir assim, ou seja, ter mais controle, positividade e entrar em estado de flow. 


Então, quando você tem um propósito forte e está mentalmente preparado, nada vai te fazer desistir. Nem as dores. Eu nadei minha preparação toda com dores na lombar. Durante a prova, quando eu parava, fazia 3 tipos de alongamentos, para prevenção e evitar o desgaste, a dor.” O pensamento de desistência vem porque o nosso cérebro sugestiona a gente. Por isso é preciso conhecer as dificuldades e se preparar, se planejar.


Data Life: Para atingir o desempenho acima da média, vencer esses desafios, essas maratonas aquáticas, além do propósito, da saúde mental e da resiliência, o que você considera fundamental? 


J. Ferreira: Sou formado em Administração, fiz a pós em gestão de projetos e uso muito um lema: sonho, planejo e executo. Têm empresas que planejam, planejam, mas pecam na execução. Por outro lado, têm profissionais que planejam pouco e até fazem bem a execução, mas dá errado porque falharam no planejamento. O planejamento, o foco e a execução, formam o PDCA do mundo corporativo. 


Uma das coisas que eu vejo é que as pessoas só pensam no resultado final, em atingir aquela meta, quando o maior aprendizado é: como você vai planejar isso? Como você vai trilhar esse caminho? Ao atingir esse objetivo, como conseguir atingir o próximo também? Não se trata de aplicar a mesma estratégia, mas sim fazer uma melhoria em cada etapa do processo. Comecei então, a mapear o que eu faço dentro da prova, em cada trecho. Identifiquei meus pontos fracos e olhei para eles sem julgar, reconhecendo que ali precisava me esforçar mais, evoluir, melhorar. É estar sempre atento em cada momento. A capacidade de adaptabilidade é fundamental e o planejamento é a principal ferramenta de todo profissional em busca dos seus objetivos, em busca do sucesso. Significa ir além do resultado. É preciso ter um objetivo muito claro e estar ligado ao seu propósito. 


Data Life: Hoje você se tornou referência de alto desempenho. Não somente no esporte, mas no mundo corporativo também, onde dá treinamentos, workshops e palestras. O que você diria para funcionários que trabalham em construção e operação de usinas de energia em locais distantes, que também ficam isolados e encaram desafios com resiliência? O que eles devem considerar como um aprendizado importante? 


J. Ferreira: Quando você está distante de família, distante de tudo, mas está ali por um propósito, porque acredita que aquele movimento, aquele trabalho vai ter uma importância, uma consequência muito maior do que dinheiro, é uma realização pessoal. Procure entender cada vez mais o seu propósito, se questionar do porque você faz ou se dedica àquela profissão, àquela tarefa. Se tem amor pelo que faz. Se você tem consciência, se sabe que, além da realização pessoal, vai ajudar uma pessoa, uma comunidade que precisa, um pequeno vilarejo, siga em frente, faça a sua parte! Eu acredito também em estar alinhado com o propósito da empresa, nesse caso, por exemplo, de levar energia, desenvolvimento para uma cidade, uma região também é uma motivação, um propósito nobre.


Data Life: Muitas vezes esses profissionais chegam ao local e começam literalmente do zero. Retiram a vegetação para começar a abrigar um canteiro de obras, alojamentos e profissionais variados como biólogos, funcionários da construção civil, engenheiros, eletricistas etc. Para chegar no objetivo, é preciso também valorizar o trabalho em equipe, certo? 


J. Ferreira: Muitas vezes, falamos de engenheiros, eletricistas, mas e o profissional que vai ali para capinar, para dar início a esse sonho? Do profissional mais simples ao formado, todo mundo pode contribuir com a sua parte. Você é experiente, chega nesses lugares e aprende a colaborar, porque pode ajudar a melhorar a vida das pessoas. E começa a valorizar o trabalho daquele profissional que está ali do seu lado, dando condições para que você faça o seu trabalho. O profissional hoje precisa ter empatia, humildade e saber valorizar a equipe, isso é fundamental. 


A minha conquista foi de um conjunto de especialistas, não só minha. Tive técnico, nutricionista, psicóloga, professoras de pilates, ioga, preparador físico, massagista, além do apoio da minha família. Eu não teria conquistado nada sem eles, sem o trabalho em equipe. E isso é um aprendizado que eu já trago do corporativo. Eu tinha que gerenciar o cabeamento da rede e da estrutura no estádio Castelão, em Fortaleza, na Copa 2014. Já naquela época e analisei os profissionais indispensáveis para alcançar o meu objetivo e montei a equipe. Porque senão você não consegue concluir o seu trabalho. Valorize, reconheça o trabalho em equipe e conquiste seus objetivos! 


Data Life: Que recado você daria a um eletricista ou profissional de um empreendimento grande, como uma usina de energia, ainda em fase de construção? 


J. Ferreira: Nunca desista. Eu fui estagiário e me tornei líder de TI. Saí do corporativo para reencontrar o meu propósito, meu objetivo, meu sonho de voltar a nadar e ver onde podia chegar. Nunca deixe de sonhar, de ir em busca de realizar. Todo sonho é para impactar a vida de várias pessoas, mudar uma cidade, uma região, um estado. Quando você realiza um sonho, você se torna uma referência.


Data Life: Para encerrar, quais são os seus planos para o futuro? Vai continuar dando palestras, tem algum outro desafio esportivo em vista já? 


J. Ferreira: Como um planejador, sonhador, tenho o desejo de fazer a travessia do Canal da Mancha. Talvez em 2024, 2025. Mas para isso, antes, eu preciso passar pela Espanha, competir nas águas geladas e cumprir várias etapas, tenho aqui pelo menos umas 10 provas mapeadas, para quando chegar na prova do Canal da Mancha, eu esteja realmente bem preparado para mais este desafio. E claro, pretendo continuar me desenvolvendo como coach e ajudando profissionais das mais diferentes áreas a planejar, ter foco e propósito para superar os obstáculos e atingir seus objetivos. 

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